quinta-feira, 28 de maio de 2009

Rui Barbosa e a fala bonita

Ao chegar em casa, Rui Barbosa ouviu um barulho estranho vindo do quintal. Chegando lá, constatou haver um ladrão tentando levar os patos de criação. Aproximou-se vagarosamente do indivíduo e, surpreendendo-o ao tentar pular o muro com as amadas penosas, disse-lhe:

— Oh, bucéfalo anácrono! Não o interpelo pelo valor intrínseco dos bípedes palmípedes, mas pelo ato vil e sorrateiro de profanares o recôndito da minha habitação, levando meus ovíparos à sorrelfa e à socapa. Se fazes isso por necessidade, transijo; mas se é para zombares da minha elevada prosopopéia de cidadão digno e honrado, dar-te-ei com minha bengala fosfórica bem no alto da tua sinagoga, e o farei com tal ímpeto que te reduzirei à qüinquagésima potência que o vulgo denomina nada.

O ladrão, confuso, perguntou:

— Doutor, eu levo ou deixo os patos?

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